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159) A. Penna de Azevedo (Prof. Dr.) homenageado pela Revista de Homeopatia do IHB, em Setembro de 1949

REVISTA DE HOMEOPATIA - SETEMBRO DE 1949- páginas 48 a 50

Necrologio

Professor Archanjo Penna de Azevedo

A. SOARES DE MEIRELLES

"Et on s'etonne de ce que ce mortel soit mort" Bossuet

Na existência dos indivíduos, tristezas e alegrias se entrelaçam ininterruptamente, numa trama tecida pelo destino.

Assim transcorre, também a vida das instituições, numa constante alternância de dias sombrios e dias radiosos de ventura, a lembrar-nos, perenemente, as vicissitudes inevitáveis e a falácia de tudo que é humano.

Um grande luto ensombrou-nos a alma, na Escola de Medicina e Cirurgia, no dia 19 de Agosto último: a morte prematura do nosso colega e particular amigo Professor Penna de Azevedo.

Era um bom companheiro desde os bancos escolares.

Que alma rica era a sua! Rica de dons da natureza: inteligência viva e penetrante, bondade e sensibilidade apurada. Rica das aquisições acumuladas de uma rara cultura posta a serviço de professores e alunos que dêle se aproximavam certos sempre de encontrar um amigo e um mestre.

Deus o chamou bem cêdo ao descanso dos que combateram o bom combate.
Foi-se sinceramente pranteado.

Com a sua morte, ocorrida nesta Capital, perde a nossa Escola de Medicina e Cirurgia um dos seus mais eminentes e conspícuos professores. E perdem a ciência e a medicina brasileiras um dos seus altos valores, uma figura querida, que uma vida de probidade intelectual e de paixão científica assinalava como das mais acatadas entre os médicos do país.

Elevando-se à admiração e ao respeito dos colegas e discípulos, graças às virtudes que tanto o enalteceram como cientista consagrado e professor eminente, revelou-se ainda o companheiro dedicado, o conselheiro sincero e inteligente, o lutador impávido dos mais caros ideais do ensino médico na nossa Escola, pela qual combateu com profundo sentimento.

A serenidade de suas atitudes foi sempre o marco inconfundível de sua personalidade impar.

Jamais procurou adaptar o seu eu interior ao convencional, criando máscara para a sociedade,

Como médico ou cientista, como professor ou colega sempre conservou uma personalidade individual, sem modificar a sua projeção exterior.

Nunca soube o que foi a luta íntima criada pelo conflito entre o que podia ser e o que devia ser. Em qualquer situação não se deixou subjugar pelas convenções sociais e pelas injunções pessoais.

Era, na riqueza dos seus conhecimentos, um consultor sempre à disposição de quem dele se valesse para desvendar os mistérios, obscuridades, segredos e dificuldades da anatomia e da fisiologia patológicas.

Na pontualidade dos horários, na constância das afeições, no ritmo do seu trabalho sem ruído, passou pela existência fugindo ao alarido das vozes a!tas, ao tumulto das almas descontentes. à arrogância das atitudes desmedidas, à arrogância das atitudes desmedidas.

Enamorado da sua profissão, professor que dignificou a sua cátedra à qual se incorporou com profunda exaltação sentimental, foi também, por temperamento e por vocação, um gentleman.

Professor primoroso de que as gerações não se esquecem jamais; justo, delicado, proficiente e devotado.

De gestos e palavras sóbrias, de riso vago e fugidio, sem embargo das reservas de compreensão humana que compunham o seu feitio moral, fez êle grande número de amigos entre os colegas e discípulos; conquistou amizades indissolúveis, menos pelas expansões afetivas que pela segurança da lealdade que ornava os seus peregrinos sentimentos.

Considerar a vida do companheiro que tombou, rememorar as suas benemerências e os aspectos nobilitantes da sua atuação profissional e do seu devotamento à humanidade, prestar-lhe o culto imorredouro da nossa gratidão e da nossa saudade é indicar aos porvindouros o exemplo magnífico que nos legou, advertindo aos que ficaram de que os claros abertos exigem a continuidade dos esforços no ideal comum e na inquebrantável fé de que todos estamos possuídos.

O mais largo elogio que se poderá tecer ao eminente cientista há pouco falecido está latente na síntese de sua vida digna de unânime louvor.

Nascido a 30 de Maio de 1903, na cidade de Santa Bárbara, no Estado de Minas Gerais, era membro de uma família que deu ao Brasil estrênuos servidores.

Começou seus estudos de humanidades, em 1918, no Internato do Colégio Pedro II ao qual, segundo confessou certa vez, deveu a base de sua cultura sôbre que pôde, com segurança, erguer tudo o que veio a saber no campo das ciências e a estrutura de seu caráter de homem cioso do cumprimento do dever.

Desde menino, no colégio, já demonstrava o futuro cientista de renome e as suas tendências par as coisas do espírito e do coração. Quieto, quase retraído, afundava-se em leituras.

Nunca fez nada que não fosse com esse mesmo ideal de perfeição, que só depois se completou. Fazia sempre, do melhor modo possível, tudo o que tinha a fazer. Não desdenhava minúcias, pondo em tudo o mesmo rigor, o mesmo amor da coisa bem feita. Nunca se impacientava, nunca levantava a voz; mesmo no calor das discussões mais veementes, era sempre tranquilo. Nunca O vi falhar em nada nem o vi perder a linha ática, perder a calma; conheci-o assim, há mais de 30 anos, no Pedro II, e não mudou até o momento em que Deus o recolheu em seu regaço, para o eterno repouso.

Juntos percorremos caminhos que o tempo jamais permitirá rever.

Ingressou na Faculdade de Medicina, em 1923, por onde se doutorou, em 1928. Aí, continuou sua vida de estudante exemplar, colhendo farta messe nas aulas dos mestres.

Em 1930, dominado pelo amor à ciência, consegue se diplomar no Curso de Aplicação do Instituto Osvaldo Cruz.

Em 1933, a bússola do seu destino dirige-o para a carreira do magistério, conquistando a cadeira de Anatomia e Fisiologia Patológicas da Escola de Medicina e Cirurgia, após brilhante concurso.

Nesta cátedra que soube honrar com sua inteligência, seu labor e sua probidade, deixou o traço inconfundível de sua personalidade de escól, revelando em todas as facetas da sua onímoda atividade, uma sabedoria singular, uma profunda psicologia dos homens e das coisas, rara integridade moral e senso científico sem par que sempre o destacaram como expressão de alto relêvo.

Em 1938, é nomeado, por concurso, biologista do Instituto Osvaldo Cruz.

Possuía, além disso, os seguintes títulos: Chefe do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital de Vírus; Chefe do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital dos Servidores do Estado; membro fundador do Colégio dos Anatomistas brasileiros, etc., etc.

Publicou cêrca de 80 trabalhos científicos e didáticos de valor. Destaca-se, Dentre êles, o seu livro: "Anatomia Patológica", que serve para orientação para a cadeira do mesmo nome, no 4.° ano médico.

A vida de Penna de Azevedo passará a ser um exemplo de paixão científica, de abnegação, altruísmo e estimulo para os que ficaram.

Agora, quando a notícia de sua morte é levada a todo o Brasil, nós do Instituto Hahnemaniano do Brasil, unidos na mesma dôr que tão duramente atingiu a sua família, sentimos, comovidos, a perda de tão grande e fraternal amigo e reverenciamos a memória do ilustre colega a quem o destino reservou tantas láureas, para maior glória da medicina brasileira.
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Resumo do currículo extraído do presente artigo:

Nascido a 30 de Maio de 1903, na cidade de Santa Bárbara, no Estado de Minas Gerais.

Ingressou na Faculdade de Medicina, em 1923, por onde se doutorou, em 1928.

Em 1930, se diplomou no Curso de Aplicação do Instituto Osvaldo Cruz.

Em 1933, conquistou, após brilhante concurso, a cadeira de Anatomia e Fisiologia Patológicas da Escola de Medicina e Cirurgia.

Em 1938, é nomeado, por concurso, biologista do Instituto Osvaldo Cruz.

Foi Chefe do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital de Vírus;

Chefe do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital dos Servidores do Estado;

Membro fundador do Colégio dos Anatomistas brasileiros.

Publicou cerca de 80 trabalhos científicos e didáticos.

Destaca-se, dentre eles, o seu livro: "Anatomia Patológica".

Faleceu em 19 de Agosto de 1949.